Gênesis 1:10


“E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares. E viu Deus que era bom.”

1. Introdução

Gênesis 1:10 revela a continuação do processo de ordenação da criação, onde o Criador confere identidade aos elementos que compõem o mundo. Ao nomear a porção seca como “Terra” e o conjunto das águas como “Mares”, Deus estabelece categorias essenciais que organizam o ambiente físico, ressaltando a harmonia e o propósito que permeiam cada parte do cosmos.

2. Contexto Histórico, Cultural e Literário

Histórico:
O relato se insere no contexto do Antigo Oriente Próximo, onde as tradições cosmogônicas enfatizavam a imposição de ordem sobre o caos. Neste versículo, a ordenação dos elementos – a terra seca e os mares – reflete a abordagem de um Deus que organiza o universo com precisão, contrastando com narrativas de criação baseadas em conflitos.

Cultural e Religioso:
Na tradição hebraica, o ato de nomear é fundamental, pois confere identidade e propósito. Ao designar “Terra” para a porção seca e “Mares” para o ajuntamento das águas, o Deus de Israel reafirma que cada componente da criação foi criado intencionalmente e possui um papel específico no grande esquema do universo.

Aspectos Literários:
A narrativa de Gênesis 1:10 utiliza uma linguagem direta e repetitiva – “E chamou Deus…” – que enfatiza a regularidade e a ordem do processo criativo. Essa estrutura reforça a ideia de que cada etapa da criação segue um padrão meticuloso, imbuído de significado e harmonia.

3. Exegese Detalhada com Palavras Originais (Texto Ampliado)

“וַיִּקְרָא אֱלֹהִים, לַיַבָּשָׁה, אֶרֶץ” (Vayikra Elohim, layabashah eretz – “E chamou Deus à porção seca Terra”):
A palavra “אֶרֶץ” (eretz) designa a terra seca e remete à ideia de solidez, firmeza e sustento. Ao nomeá-la “Terra”, Deus estabelece a base física onde a vida poderá se desenvolver. Esse ato confere não apenas uma identidade geográfica, mas também um sentido de estabilidade e permanência na criação.

“וַיִּקְרָא, לְמִקְוֵה הַמַּיִם, יַמִּים” (Vayikra, lemikveh hamayim, yamim – “e ao ajuntamento das águas chamou Mares”):
O termo “יַמִּים” (yamim) refere-se às águas reunidas em grandes corpos, ou seja, os mares. Ao designar este conjunto, Deus delimita o espaço ocupado pelas águas, diferenciando-o da terra seca. Essa distinção é crucial para a organização do ambiente, evidenciando que a criação é composta por elementos complementares que, embora distintos, funcionam em perfeita harmonia.

“וַיִּרְא אֱלֹהִים, כִּי-טוֹב” (Vayir' Elohim, ki-tov – “E viu Deus que era bom”):
Ao concluir o versículo, o Criador observa que a ordenação dos elementos – a Terra e os Mares – cumpre Seu propósito e possui uma qualidade intrínseca de bondade. Essa aprovação divina confirma que a estrutura estabelecida é perfeita para sustentar a vida e refletir o plano divino.

4. Implicações Teológicas

Domínio e Soberania de Deus:
O ato de nomear e separar a Terra dos Mares revela o controle absoluto de Deus sobre a criação. Cada elemento é cuidadosamente posicionado, evidenciando que nada é deixado ao acaso e que toda a realidade se estrutura segundo um plano divino meticuloso.

Organização do Cosmos:
A distinção entre a terra seca e as águas ajunta-se a outros atos criativos para formar a base do mundo habitável. Essa organização é fundamental, pois estabelece um ambiente propício para o surgimento e a manutenção da vida, demonstrando que a criação possui ordem e propósito.

Validação da Bondade da Criação:
A declaração “E viu Deus que era bom” reafirma que cada parte da criação, ao ser ordenada e definida, revela a perfeição e a benevolência do Criador. Essa avaliação confere valor moral e funcional à estrutura criada, servindo de alicerce para toda a teologia subsequente.

5. Aspectos Filosóficos

Dualidade e a Natureza dos Opostos:
A distinção entre a Terra e os Mares evidencia que o conhecimento pleno de um elemento depende da definição de seu oposto. Assim como o significado da terra seca se realça pelo contraste com o ajuntamento das águas, a compreensão de cada parte do cosmos se dá por meio da clara delimitação dos seus limites, promovendo um sistema de interdependência que enriquece o entendimento da realidade.

Metafísica do Ser e do Não-Ser:
A ordenação dos elementos – o surgimento da terra seca a partir da reunião das águas – levanta reflexões sobre a origem do ser a partir do não-ser. Este processo demonstra como a ordem emerge de um estado primordial indistinto, estruturando uma existência racional e deliberada a partir do caos.

Organização como Base do Conhecimento:
Ao estabelecer fronteiras e separar os elementos, Deus cria um sistema ordenado que facilita o conhecimento e o entendimento. Essa organização evidencia que a clareza e a compreensão plena da realidade dependem da definição precisa de seus componentes, permitindo que o universo se torne inteligível.

6. Aplicações Práticas e Reflexões Contemporâneas

Criação de Estruturas e Limites:
O modelo divino de reunir e separar elementos inspira a importância de estabelecer limites claros em nossas vidas. Seja na organização pessoal ou na gestão de comunidades, a definição de fronteiras é essencial para transformar o caos em um ambiente estruturado e produtivo.

Promoção do Equilíbrio e da Harmonia:
A ordem estabelecida entre a Terra e os Mares reflete a busca pelo equilíbrio. Esse princípio pode ser aplicado para promover a harmonia em diversas esferas da vida, incentivando práticas que favoreçam a estabilidade e o desenvolvimento sustentável.

Inspiração para a Inovação e a Transformação:
A transformação do caos primordial em uma estrutura organizada nos ensina que a inovação surge da capacidade de estabelecer limites e organizar elementos. Essa perspectiva pode estimular o pensamento criativo e a reestruturação de situações complexas, tanto no âmbito pessoal quanto profissional.

7. Conclusão

Gênesis 1:10 destaca a ação ordenadora de Deus ao nomear a porção seca “Terra” e ao designar o ajuntamento das águas como “Mares”, consolidando a estrutura básica do mundo habitável. Através da análise dos termos originais, das implicações teológicas e dos aspectos filosóficos, o versículo revela um cosmos meticulosamente organizado, onde cada elemento possui identidade e função específicas. Esta ordenação não só reflete a soberania do Criador, mas também convida à reflexão sobre a importância dos limites e da clareza para a formação do conhecimento e do equilíbrio na vida. Assim, o versículo serve como um alicerce para compreender a ordem divina que sustenta toda a criação.

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