Gênesis 1:19


Passaram-se a tarde e a manhã; esse foi o quarto dia.

1. Introdução

Gênesis 1:19 conclui a descrição da criação do quarto dia, reforçando a estrutura temporal que Deus estabeleceu para o cosmos. A repetição da expressão "Passaram-se a tarde e a manhã" enfatiza a ordem e regularidade da criação, consolidando o ciclo de dias e noites. Essa estrutura não apenas organiza o tempo, mas também reflete a sabedoria divina na organização do universo. A menção do “quarto dia” confirma a progressão do ato criativo de Deus, estabelecendo os luminares como reguladores do tempo e preparando o ambiente para a vida que será criada nos dias subsequentes.

2. Contexto Histórico, Cultural e Literário

Assim como nos dias anteriores, a expressão "Passaram-se a tarde e a manhã" reafirma o ciclo divinamente estabelecido do tempo. No contexto do Antigo Oriente Próximo, muitas culturas possuíam concepções mitológicas sobre a origem do tempo e a sucessão dos dias. No entanto, a narrativa bíblica apresenta a criação do tempo como um ato ordenado e deliberado de Deus, destacando que Ele não apenas criou o universo, mas também determinou sua estruturação e funcionamento.

A estrutura cíclica do tempo reflete a regularidade e confiabilidade do Criador, um tema que será repetido ao longo das Escrituras, especialmente na regulamentação do sábado e das festas religiosas de Israel (Êxodo 20:8-11; Levítico 23). Além disso, o uso contínuo dessa fórmula literária enfatiza a progressão do ato criativo, conduzindo a narrativa de forma metódica até a conclusão da criação no sétimo dia.

3. Interpretação Teológica do Versículo

E houve tarde e manhã
Essa expressão enfatiza a conclusão de um ciclo completo dentro do relato da criação, reforçando a estrutura ordenada do tempo estabelecida por Deus. O uso de "tarde" e "manhã" segue a lógica do calendário hebraico, onde o dia começa ao pôr do sol e termina no pôr do sol seguinte. Esse padrão destaca a organização meticulosa da criação e a progressão contínua da obra divina.

O quarto dia
Neste dia, Deus criou os luminares celestes para governar o tempo e separar o dia da noite. Esse ato reafirma Sua soberania sobre o cosmos, contrapondo-se às crenças pagãs que adoravam o sol, a lua e as estrelas como divindades. A criação dos astros também tem um propósito teológico, pois além de servirem como marcadores temporais, eles apontam para a glória de Deus (Salmo 19:1) e para o cumprimento da revelação final, onde o próprio Deus será a luz na Nova Jerusalém (Apocalipse 21:23).

O quarto dia também prefigura Cristo como a luz do mundo (João 8:12), simbolizando não apenas a iluminação física, mas a iluminação espiritual que viria por meio da redenção. Essa conexão reforça a ideia de que a criação do universo e o plano de salvação estão interligados, demonstrando a continuidade do propósito divino ao longo da história bíblica.

4. Exegese Detalhada

"E houve tarde e manhã" (וַיְהִי-עֶרֶב וַיְהִי-בֹקֶר | Vayehi erev vayehi boker)

  • וַיְהִי (Vayehi) – “E houve” ou “e aconteceu”, um verbo que enfatiza a sequência e o cumprimento do processo divino. Esse termo indica que cada fase da criação ocorre exatamente como Deus determinou.
  • עֶרֶב (Erev) – Significa "tarde" ou "anoitecer", marcando o final de um ciclo e o começo do período de descanso. No calendário hebraico, o dia se inicia ao pôr do sol.
  • בֹּקֶר (Boker) – Significa "manhã" ou "alvorecer", representando renovação, continuidade e a progressão ordenada da criação. Esse termo reforça a estruturação do tempo dentro da narrativa.

"O quarto dia" (יוֹם רְבִיעִי | Yom Revi’i)

  • יוֹם (Yom) – Literalmente "dia", o termo é amplamente debatido na teologia. Muitos estudiosos conservadores interpretam "yom" aqui como um período de 24 horas, enquanto outros sugerem que pode se referir a uma era extensa, dada a linguagem poética do texto.
  • רְבִיעִי (Revi’i) – Significa "quarto" ou "o quarto em sequência", indicando o estágio progressivo dentro do ato criativo.

Essa estrutura reforça a ordem e a intencionalidade de Deus na criação do tempo e dos luminares, contrastando com as mitologias pagãs que enxergavam os corpos celestes como divindades. No relato bíblico, o sol, a lua e as estrelas não são deuses, mas criações submetidas à vontade do Criador.

5. Pessoas / Lugares / Eventos

1. Deus

O Criador, que demonstra Seu poder e autoridade ao estruturar o universo de maneira ordenada. Ele estabelece os luminares como instrumentos para governar o tempo e iluminar a terra.

2. O Quarto Dia

Um marco específico na narrativa da criação, onde Deus finaliza a formação dos corpos celestes e estabelece a governança do dia e da noite. Esse dia confirma a organização meticulosa da criação.

3. Tarde e Manhã

Uma expressão recorrente no relato da criação, reforçando o ciclo estabelecido por Deus e a regularidade do tempo. Esse padrão aponta para a ordem e intencionalidade do Criador em Seu projeto cósmico.

6. Pontos de Ensino

1. A Criação Ordenada por Deus

A expressão "tarde e manhã" reforça a estruturação intencional da criação, mostrando que Deus não age de forma aleatória, mas com ordem e propósito. Isso nos ensina a confiar no plano divino para nossas vidas.

2. A Importância do Tempo

A divisão do tempo em dias reflete a soberania de Deus sobre o tempo. Como cristãos, somos chamados a administrar bem nosso tempo, reconhecendo-o como um dom divino a ser usado com sabedoria.

3. A Glória da Criação

A conclusão da criação dos luminares no quarto dia aponta para a majestade e a grandeza de Deus. Como Seus filhos, devemos adorá-Lo como Criador e cultivar um senso de admiração e gratidão por Sua obra.

4. A Fidelidade de Deus

O padrão consistente de "tarde e manhã" nos lembra da fidelidade e confiabilidade de Deus. Assim como Ele completou cada fase da criação, Ele também cumpre Suas promessas em nossas vidas.

5. Refletindo a Luz de Deus

O sol e a lua foram criados para governar o dia e a noite, e isso pode ser visto como uma metáfora para os crentes, que são chamados a refletir a luz de Deus em um mundo que muitas vezes está em trevas espirituais.

7. Implicações Teológicas

1. Deus é o Soberano sobre o Tempo e a Criação

O estabelecimento da ordem temporal com "tarde e manhã" no quarto dia demonstra que Deus não apenas criou o universo, mas também governa sobre o tempo. Essa verdade nos lembra que nossa existência está sob Seu controle e que tudo se desenrola conforme Seu propósito.

2. A Criação Revela a Glória de Deus

A formação dos luminares e sua função de governar o dia e a noite destaca a majestade de Deus. Isso ecoa passagens como Salmo 19:1 ("Os céus proclamam a glória de Deus"), demonstrando que a criação em si testemunha a grandeza do Criador.

3. O Tempo é um Dom de Deus e Deve Ser Administrado com Sabedoria

A estruturação dos dias no relato da criação sugere que o tempo é um recurso valioso e sagrado. A Bíblia nos ensina a usar nosso tempo com discernimento (Efésios 5:16), reconhecendo que cada dia é uma oportunidade dada por Deus.

4. Deus é Um Deus de Ordem, Não de Caos

A sequência precisa da criação, incluindo a divisão dos dias, mostra que Deus opera com ordem, planejamento e perfeição. Isso contrasta com visões de mundo caóticas e reforça a ideia de que o universo tem um propósito divino.

5. A Luz Como Símbolo da Revelação de Deus

O quarto dia não apenas estabelece a luz física, mas também aponta para a luz espiritual que viria em Cristo. Jesus é descrito como "a luz do mundo" (João 8:12), revelando que o plano de Deus sempre incluiu a redenção e a iluminação espiritual da humanidade.

8. Aspectos Filosóficos

1. O Tempo Como Estrutura da Realidade

A repetição da frase "tarde e manhã" indica que o tempo não é um conceito arbitrário, mas sim uma realidade estruturada por Deus. Filósofos como Agostinho de Hipona refletiram sobre a natureza do tempo, destacando que ele existe dentro da criação e não antes dela. O relato bíblico sugere que Deus não apenas criou o espaço e a matéria, mas também o próprio tempo, estabelecendo ciclos ordenados.

2. Ordem vs. Caos

O relato da criação de Gênesis se opõe a cosmogonias de diversas culturas antigas que viam a origem do universo como um resultado do caos ou de conflitos entre divindades. Aqui, o texto bíblico apresenta um Criador único que estabelece o cosmos de forma meticulosa e intencional, o que ressoa com a visão filosófica aristotélica de um primeiro motor imóvel – uma causa primeira racional e ordenadora.

3. A Regularidade da Natureza e a Base da Ciência

O conceito de dias e ciclos estabelecidos por Deus reflete uma ordem previsível, que mais tarde serviria de base para o desenvolvimento do pensamento científico. A crença de que o universo opera segundo leis imutáveis e racionais foi essencial para o surgimento da ciência moderna, algo defendido por pensadores cristãos como Isaac Newton e Johannes Kepler, que viam na criação um reflexo da mente divina.

4. O Tempo e a Existência Humana

O relato da criação apresenta um ciclo contínuo de dias, reforçando a relação entre a passagem do tempo e a experiência humana. Filósofos como Martin Heidegger discutiram a importância do tempo na existência, enfatizando que a vida humana se dá dentro de uma estrutura temporal. O fato de Deus ordenar o tempo desde o início ressalta que a vida não é um evento aleatório, mas tem um fluxo direcionado por propósitos divinos.

5. Luz e Trevas Como Símbolos do Conhecimento e da Ignorância

Desde Platão, a luz é frequentemente associada ao conhecimento, verdade e iluminação intelectual, enquanto a escuridão simboliza ignorância e confusão. O relato da separação entre luz e trevas no quarto dia pode ser interpretado não apenas fisicamente, mas também como uma referência ao discernimento e à revelação, temas centrais na filosofia e na teologia.

9. Aplicações Práticas e Reflexões Contemporâneas

1. O Valor do Tempo e a Administração Sábia da Vida

A estruturação dos dias na criação nos lembra da importância do tempo e da necessidade de usá-lo com sabedoria. Em um mundo onde a correria e a distração digital são constantes, a Bíblia nos ensina a valorizar cada dia como um presente de Deus (Efésios 5:16).

2. Deus é um Deus de Ordem, Não de Confusão

A criação segue um plano detalhado, demonstrando que Deus não age de maneira arbitrária. Em nossa vida, confiar na ordem divina significa buscar equilíbrio, planejamento e alinhamento com os propósitos de Deus, evitando decisões impulsivas e desorganizadas.

3. O Testemunho da Criação e a Responsabilidade Ambiental

Os luminares criados por Deus servem para governar o tempo e iluminar a terra. Isso nos lembra de que a criação tem um propósito e deve ser preservada. Como bons administradores da criação, somos chamados a cuidar do meio ambiente e reconhecer a grandiosidade de Deus na natureza (Salmo 8:3-4).

4. A Regularidade da Criação Como Reflexo da Fidelidade de Deus

O ciclo de dias e noites nos lembra que Deus é imutável e confiável. Assim como Ele mantém a ordem do universo, Ele também mantém Suas promessas e é digno da nossa confiança (Lamentações 3:22-23).

5. Cristo Como a Luz Que Ilumina Nossa Vida

A criação dos luminares para governar o dia e a noite aponta simbolicamente para Cristo, que é chamado de "Luz do mundo" (João 8:12). Assim como o sol ilumina a terra, Jesus ilumina nossa vida espiritual, dissipando as trevas do pecado e nos guiando pelo caminho da verdade.

10. Conclusão

Gênesis 1:19 encerra o relato do quarto dia da criação, reafirmando o padrão divinamente estabelecido de tempo por meio da repetição da expressão "tarde e manhã". Essa estrutura não apenas reforça a ordem e o planejamento divino, mas também evidencia a soberania de Deus sobre o tempo e a criação.

Os luminares foram criados para governar o dia e a noite, estabelecendo ciclos naturais que regulam a vida na Terra. Esse processo destaca a ordem, precisão e intencionalidade com que Deus criou o universo, contrastando com as narrativas pagãs que divinizavam o sol, a lua e as estrelas.

Além da função física, os luminares também possuem um significado simbólico profundo. Eles apontam para a luz de Deus que guia a humanidade, culminando na revelação de Jesus Cristo como a "Luz do mundo" (João 8:12). Assim, esse versículo não apenas confirma a ordem cósmica, mas também antecipa a vinda da verdadeira luz que ilumina todo homem.

O quarto dia da criação nos ensina a reconhecer o valor do tempo, a confiabilidade do Criador e a necessidade de viver alinhados à Sua ordem. Deus continua sendo Senhor sobre o tempo e a história, e, assim como Ele estabeleceu o curso dos dias, também guia nossas vidas de acordo com Seu propósito eterno.

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