Mateus 1:3


Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar; Perez gerou Esrom; Esrom gerou Arão;

1. Introdução

Mateus 1:3 dá sequência à genealogia de Jesus, mencionando Judá e sua relação com Tamar, que resultou em Perez e Zerá. Diferentemente das genealogias que pulam a figura materna, aqui a presença de Tamar chama atenção para um evento marcante no Antigo Testamento (Gênesis 38), onde Judá e Tamar se envolvem em uma história que fala de engano, mas também de redenção e continuidade da linhagem prometida. Ao relacionar Judá com Tamar e seus filhos, o texto destaca que, mesmo por caminhos pouco convencionais, Deus mantém Seu plano de conduzir a linhagem que culminará em Jesus, o Messias. A menção a nomes menos esperados — e até controversos — revela a soberania e a graça divinas, que atuam em meio às imperfeições humanas.

2. Contexto Histórico, Cultural e Literário

Histórico
No período em que a genealogia de Mateus foi redigida, era comum que apenas os homens fossem mencionados ao se estabelecer uma linha de descendência. A inclusão de Tamar indica uma preocupação de Mateus em demonstrar a intervenção divina, mesmo em contextos culturais onde a mulher não costumava ter protagonismo na genealogia. O relato de Judá e Tamar encontra-se em Gênesis 38, um capítulo que mostra como Deus mantém Sua promessa e Seu plano de redenção, apesar das falhas humanas e das circunstâncias inusitadas.

Cultural e Religioso
Para o povo judeu, a genealogia era fundamental para legitimar a identidade de uma pessoa, sua herança e seu papel na comunidade. Judá era um dos doze filhos de Jacó, representando a tribo de onde viria a realeza em Israel. Tamar, por outro lado, destaca-se por sua participação na continuidade da linhagem, numa história marcada por costumes e leis de levirato (ao qual se refere o casamento com o parente do falecido marido). A presença de Tamar na genealogia de Jesus reforça a natureza inclusiva do plano divino e a valorização de todas as pessoas envolvidas, mesmo em circunstâncias moralmente complexas.

Aspectos Literários
A genealogia de Mateus apresenta uma progressão de nomes que liga o Antigo Testamento à chegada do Messias. Aqui, a citação detalhada de Tamar, Perez e Zerá surpreende por dar destaque a um episódio que poderia ser visto como desconfortável para a linhagem real. Ao incluir nomes de mulheres em meio a uma cultura que priorizava os homens nas genealogias, Mateus demonstra que a ação divina transcende barreiras culturais e revela a graça de Deus no curso da história.

3. Interpretação Teológica do Versículo

“Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar”
Judá, um dos doze filhos de Jacó, é figura fundamental, pois dele procede a tribo de onde surgiriam o rei Davi e, em última instância, Jesus Cristo. A menção de Tamar realça uma história singular, descrita em Gênesis 38, na qual Tamar, nora de Judá, por meio de costumes de casamento por levirato, dá à luz os gêmeos Perez e Zerá. Esse episódio evidencia temas de redenção e da soberania de Deus em usar pessoas falhas para cumprir Seus propósitos. A presença de Tamar na genealogia de Mateus também ressalta a graça divina e quebra de normas culturais, já que genealogias raramente incluíam nomes femininos.

“Perez gerou Esrom”
Perez, cujo nome significa “brecha” ou “ruptura”, é um ancestral direto do rei Davi e de Jesus. Seu nascimento é crucial, pois continua a linhagem da qual o Messias surgiria. Esrom (ou Hezrom, dependendo da transliteração) dá prosseguimento a essa linha genealógica, enfatizando o valor histórico e teológico de cada passo na sucessão que leva ao destaque da tribo de Judá em Israel. Outras genealogias, como as de 1 Crônicas 2:5 e Rute 4:18-22, confirmam a importância dessa família na história bíblica.

“Esrom gerou Arão”
Esrom, filho de Perez, tem em Arão (ou Ram, conforme a variação de transliteração) outro elo na corrente que leva a Davi e a Cristo. Embora a Bíblia não detalhe muito sobre a vida de Arão, sua inclusão demonstra a fidelidade de Deus em preservar a linhagem messiânica. Essa sequência genealógica comprova a legitimidade de Jesus como o Messias prometido, cumprindo passagens como Gênesis 49:10, onde se anuncia que o cetro não se afastaria de Judá, reforçando que a história caminha de acordo com o plano divino, culminando na vinda de Cristo.

5. Pessoas / Lugares / Eventos

  1. Judá
    Um dos doze filhos de Jacó, Judá é figura proeminente na linhagem de Jesus. Seu nome significa “louvor” em hebraico. É o ancestral da tribo de Judá, de onde descende o rei Davi e, em última instância, Jesus Cristo.

  2. Tamar
    Mulher cananeia que se tornou nora de Judá. Sua história é marcada por perseverança e justiça, pois garantiu a continuidade da linha de Judá por meios incomuns. O episódio de Gênesis 38 ressalta sua determinação em preservar a herança familiar.

  3. Perez e Zerá
    Filhos gêmeos de Judá e Tamar. Perez está presente na genealogia de Jesus, ressaltando a graça e a redenção de Deus ao usar pessoas e circunstâncias inesperadas para cumprir Seus propósitos. Zerá, embora menos destacado, faz parte desse registro que confirma a soberania divina na história.

  4. Esrom (Hezron)
    Descendente de Perez, Esrom integra a linha genealógica que conduz ao rei Davi e, posteriormente, a Jesus. Sua posição na linhagem sublinha a continuidade das promessas divinas através das gerações.

  5. Arão (Ram)
    Outro elo na genealogia, Ram é um personagem menos conhecido, mas essencial na linhagem que leva ao Messias. Sua inclusão demonstra que cada pessoa, mesmo em papéis menores, tem relevância no plano de Deus.

6. Pontos de Ensino

A Soberania de Deus na Genealogia
A presença de pessoas como Tamar na genealogia de Jesus ressalta a escolha soberana de Deus em usar indivíduos inesperados e, muitas vezes, marginalizados para cumprir Seus propósitos. Isso confirma que o plano divino não se limita a padrões humanos e inclui quem, à primeira vista, poderia ser desprezado.

Redenção e Graça
A história de Judá e Tamar é um lembrete contundente da graça e da redenção de Deus. Apesar de falhas e pecados humanos, o propósito divino prevalece, demonstrando que Deus pode transformar situações adversas para realizar Seu perfeito desígnio.

A Importância do Legado
Cada pessoa mencionada na genealogia — de Judá a Ram — contribuiu para a chegada do Messias. Essa realidade ensina sobre a relevância da fidelidade em nossa própria história, pois também fazemos parte do relato contínuo de Deus no mundo.

Deus Usa Pessoas Imperfeitas
A linhagem de Jesus inclui muitos que eram falhos, mas que Deus empregou de modo extraordinário. Esse fato nos encoraja a crer que, apesar das nossas imperfeições, podemos ser instrumentos nas mãos de Deus para Seus grandes projetos.

4. Exegese Detalhada

“Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar” (Ἰούδας δὲ ἐγέννησεν τὸν Φάρες καὶ τὸν Ζαρὰ ἐκ τῆς Θαμάρ | Ioúdas dè egénnēsen tòn Fáres kaì tòn Zará ek tês Thamár)

  • Ἰούδας (Ioúdas) – “Judá”
    Nome de origem hebraica (יהודה, Yehudah), que significa “louvor”. É o quarto filho de Jacó e antepassado da tribo real de Israel.
  • ἐγέννησεν (egénnēsen) – “gerou” ou “foi pai de”
    Verbo grego (aoristo de γεννάω, gennáō), usado repetidamente na genealogia para indicar a sucessão de uma geração à outra. Expressa a ideia de “tornar-se pai de” ou “dar origem a”.
  • Φάρες (Fáres) – “Perez”
    Do hebraico פֶּרֶץ (Perets), que significa “brecha” ou “ruptura” (Gênesis 38:29).
  • Ζαρὰ (Zará) – “Zerá”
    Nome hebraico זֶרַח (Zerach), associado à ideia de “brilhar” ou “ressurgir” (Gênesis 38:30).
  • ἐκ τῆς Θαμάρ (ek tês Thamár) – “cuja mãe foi Tamar”
    Θαμάρ (Thamár) corresponde ao hebraico תָּמָר (Tamar), que significa “palmeira”. O texto destaca a participação de Tamar, uma mulher cananeia, na genealogia messiânica, algo incomum em genealogias antigas que priorizavam nomes masculinos.

“Perez gerou Esrom” (Φάρες δὲ ἐγέννησεν τὸν Ἐσρώμ | Fáres dè egénnēsen tòn Esróm)

  • Ἐσρώμ (Esróm) – “Esrom” ou “Hezrom”
    Em hebraico, pode ser חֶצְרוֹן (Hetzron). Aparece em outras genealogias bíblicas, como 1 Crônicas 2:5 e Rute 4:18-22, evidenciando a continuidade dessa linhagem dentro da tribo de Judá.

“Esrom gerou Arão” (Ἐσρὼμ δὲ ἐγέννησεν τὸν Ἀράμ | Esróm dè egénnēsen tòn Arám)

  • Ἀράμ (Arám) – “Arão” ou “Ram”
    Variação ortográfica em algumas traduções, possivelmente רָם (Ram) em hebraico. É mais um elo na sucessão genealógica que leva ao rei Davi e, posteriormente, a Jesus Cristo. Embora pouco mencionado no texto bíblico, sua presença reforça o fio condutor divino, unindo cada geração na direção do plano messiânico.

Em todo esse versículo, a repetição de ἐγέννησεν (egénnēsen) salienta a transmissão de vida e a continuidade da linhagem que culmina no Messias. A inclusão de Tamar destaca a graça de Deus em usar histórias e pessoas improváveis para realizar Seu plano redentor. Perez, Zerá, Esrom e Arão compõem os elos de uma cadeia inquebrável que atravessa o Antigo Testamento, chegando até Jesus em Mateus 1.

7. Implicações Teológicas

A genealogia apresentada em Mateus 1:3 reforça a soberania de Deus em conduzir a história da salvação por meio de pessoas específicas, inclusive aquelas envolvidas em situações moralmente questionáveis, como Tamar. O fato de Judá e Tamar gerarem Perez e Zerá evidencia que o plano divino não se limita a circunstâncias ideais nem depende de perfeição humana para ser cumprido. Deus atua em meio às imperfeições e adversidades, assegurando que Suas promessas progridam de geração em geração.

Além disso, o versículo destaca a fidelidade de Deus às Suas alianças, pois cada elo na genealogia, desde Judá até Arão, serve como um passo na construção da linhagem messiânica. Essa linha sucessória enfatiza que o Messias viria em cumprimento às profecias e aos pactos estabelecidos no Antigo Testamento, demonstrando que a redenção não é um acontecimento isolado no Novo Testamento, mas parte de uma narrativa unificada, planejada e soberanamente administrada por Deus ao longo dos séculos.

8. Aspectos Filosóficos

O relato de Mateus 1:3 menciona Tamar, cuja história descrita em Gênesis 38 envolve circunstâncias moralmente polêmicas: após ficar viúva duas vezes, ela se disfarçou de prostituta para garantir sua descendência com Judá, seu sogro, que lhe negara o cumprimento das leis de levirato. Do ponto de vista filosófico, esse evento levanta reflexões sobre como ações aparentemente condenáveis ou controversas podem, dentro do plano divino, contribuir para a formação de uma linhagem que culmina no Messias.

A aparente contradição entre os meios (disfarce, engano) e o fim (continuidade da linhagem de Judá) suscita questionamentos acerca de liberdade humana, responsabilidade moral e a soberania de um propósito maior. Enquanto a atitude de Tamar fere normas sociais e morais, o texto bíblico sugere que Deus, em Sua providência, não é limitado pelas imperfeições e escolhas dúbias das pessoas. Essa tensão filosófica entre falibilidade humana e realização do plano divino aponta para uma cosmovisão em que mesmo atos controversos podem ser redimidos e incorporados em uma narrativa de salvação, evidenciando que o universo e a história não são regidos unicamente por leis mecânicas ou fatalistas, mas por uma coordenação superior que permite — sem necessariamente aprovar — o uso de ações humanas falhas para cumprir propósitos redentores.

9. Aplicações Práticas e Reflexões Contemporâneas

  1. Confiança na Soberania Divina
    A história de Tamar mostra que até mesmo circunstâncias moralmente controversas podem ser incluídas por Deus na linhagem messiânica. Isso nos encoraja a crer que, apesar das falhas humanas, o plano divino permanece firme, e Ele é capaz de dirigir cada situação para Seus propósitos.

  2. Valorização da História Familiar
    Ao entender que genealogias bíblicas não são meramente listas de nomes, mas histórias de pessoas reais com lutas e imperfeições, somos estimulados a enxergar nossas próprias histórias de família como parte de uma narrativa maior. Cada antepassado tem relevância na construção de quem somos, e Deus pode usar até mesmo episódios pouco convencionais para trazer à tona Seu plano de redenção.

  3. Graça em Meio a Imperfeições
    A presença de Tamar na genealogia de Jesus lembra que Deus não está limitado a padrões humanos de merecimento. Ele inclui e redime situações adversas, demonstrando que até mesmo ações controversas podem ser transformadas por Sua graça. Isso nos encoraja a aceitar o perdão divino e a enxergar potencial de restauração em contextos difíceis.

  4. Responsabilidade Individual e Impacto nas Gerações
    Cada personagem na genealogia—Judá, Tamar, Perez e outros—deixou um legado que afeta gerações seguintes. Suas escolhas, boas ou más, moldaram o futuro de Israel e culminaram no Messias. De forma similar, nossas decisões hoje podem ter consequências duradouras, ressaltando a necessidade de discernimento e compromisso com valores que honrem a Deus.

  5. Inclusão e Redenção de Mulheres no Plano de Deus
    O fato de Tamar (mulher gentia e envolvida em controvérsias) aparecer na genealogia de Jesus sublinha a forma como Deus acolhe e redime pessoas à margem das expectativas sociais. Isso nos lembra de estender graça, hospitalidade e valorização a todos, reconhecendo que Ele pode chamar e usar qualquer pessoa para Seus propósitos.

10. Conclusão

Mateus 1:3 apresenta a sucessão de Judá até Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar, e segue até Esrom e Arão. Essa passagem, embora breve, está repleta de significado teológico e prático: mostra a soberania de Deus em utilizar até mesmo circunstâncias moralmente questionáveis, como o caso de Tamar, para conduzir Sua vontade e dar seguimento à linhagem que culminaria em Jesus, o Messias. A genealogia reforça que Deus não está limitado a padrões humanos de mérito ou perfeição, mas age em meio às fraquezas e imperfeições para revelar Seu plano de salvação. Em cada geração, a fidelidade e a graça divinas permanecem, destacando a continuidade das promessas desde os patriarcas até a realização plena em Cristo.

 

 

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