Portanto, não se preocupem, dizendo: ‘Que vamos comer? ’ ou ‘que vamos beber? ’ ou ‘que vamos vestir? ’
1. Introdução
Este versículo representa o clímax do ensinamento de Jesus sobre a ansiedade material no Sermão do Monte. Após demonstrar que Deus cuida dos pássaros e das flores, Jesus agora faz uma aplicação direta aos seus ouvintes. A palavra "portanto" conecta este comando às provas anteriores da providência divina. Jesus não está condenando o planejamento responsável ou o trabalho diligente, mas sim a preocupação ansiosa que paralisa, que questiona a fidelidade de Deus e que rouba a paz do coração. Este ensino desafia a tendência humana de tentar controlar o futuro através da ansiedade, quando na verdade deveríamos confiar no caráter e nas promessas de Deus. O tema é especialmente relevante para uma sociedade consumista que frequentemente mede valor e segurança pela abundância material.
2. Contexto Histórico e Cultural
No primeiro século, a Judeia vivia sob ocupação romana e grande instabilidade econômica. A maioria das pessoas trabalhava como agricultores, pescadores ou artesãos, vivendo com salários diários sem garantia de trabalho no dia seguinte. Não existiam sistemas de seguridade social, seguros ou benefícios trabalhistas. Uma doença, uma seca ou uma decisão administrativa romana poderiam lançar uma família inteira na pobreza extrema. A comida era frequentemente escassa, e muitos dependiam de colheitas que podiam falhar devido ao clima imprevisível da região. A água potável era um recurso valioso no clima árido da Palestina, nem sempre disponível ou segura para consumo. As roupas eram feitas à mão, um processo trabalhoso e caro, tornando cada peça de vestuário um investimento significativo. Neste contexto de vulnerabilidade constante, o ensinamento de Jesus sobre confiar em Deus em vez de se preocupar era simultaneamente desafiador e reconfortante, oferecendo uma perspectiva radicalmente diferente da ansiedade que dominava a vida cotidiana.
3. Análise Teológica do Versículo
Portanto, não se preocupem
Esta frase é um comando direto de Jesus, enfatizando a importância de confiar na provisão de Deus. A palavra "portanto" conecta este versículo aos ensinamentos anteriores sobre o cuidado de Deus pela criação e a inutilidade da preocupação. No Sermão do Monte, Jesus aborda a tendência humana de ficar ansioso sobre necessidades materiais. O comando de não se preocupar está fundamentado no entendimento de que Deus é soberano e conhece as necessidades do seu povo. Isto reflete o tema bíblico da fé sobre o medo, como visto em passagens como Filipenses 4:6-7, onde os crentes são encorajados a apresentar seus pedidos a Deus com ação de graças.
dizendo: 'Que vamos comer?'
No contexto histórico e cultural da Judeia do primeiro século, a segurança alimentar era uma preocupação significativa. Muitas pessoas viviam no dia a dia, dependendo de salários diários para sustentar suas famílias. A audiência de Jesus teria compreendido a ansiedade associada a garantir o sustento diário. Ao instruí-los a não se preocupar com comida, Jesus aponta para a provisão de Deus, como demonstrado no Antigo Testamento com o maná fornecido aos israelitas no deserto (Êxodo 16). Esta frase também se conecta à Oração do Pai Nosso anteriormente no capítulo, onde Jesus ensina a orar por "nosso pão de cada dia", enfatizando a dependência de Deus para as necessidades diárias.
ou 'que vamos beber?'
A água era um recurso precioso no clima árido da Palestina antiga. O acesso à água limpa e segura não era garantido, tornando-a uma preocupação legítima para o povo. O ensinamento de Jesus aqui assegura aos seus seguidores que Deus está ciente de suas necessidades e proverá. Isto ecoa a provisão de água da rocha em Êxodo 17:6, onde Deus miraculosamente forneceu água para os israelitas. A menção da bebida também simboliza sustento espiritual, pois Jesus mais tarde se refere a si mesmo como a "água viva" em João 4:10, oferecendo satisfação eterna além das necessidades físicas.
ou 'que vamos vestir?'
As roupas nos tempos bíblicos eram uma necessidade básica, frequentemente feitas à mão e custosas. A preocupação com vestuário reflete uma ansiedade mais ampla sobre status social e aceitação, já que as vestimentas podiam significar a posição de alguém na sociedade. O ensinamento de Jesus desafia seus seguidores a priorizar preocupações espirituais sobre materiais, confiando que Deus os vestirá como veste os lírios do campo (Mateus 6:28-30). Esta frase também alude à justiça de Cristo, com a qual os crentes são "vestidos", como visto em Gálatas 3:27, onde aqueles batizados em Cristo "se revestiram" de Cristo, significando uma verdade espiritual mais profunda além do vestuário físico.
4. Pessoas, Lugares e Eventos
1. Jesus Cristo
O orador desta passagem, proferindo o Sermão do Monte, um momento de ensino fundamental em seu ministério.
2. Discípulos
A audiência principal dos ensinamentos de Jesus, representando todos os crentes que buscam seguir os ensinamentos de Cristo.
3. Sermão do Monte
Um evento significativo onde Jesus ensinou sobre o Reino de Deus, abordando vários aspectos da vida e da fé.
4. Galileia
A região onde o Sermão do Monte aconteceu, um local central no ministério de Jesus.
5. Pai Celestial
Deus, que é retratado como o provedor e cuidador de todas as necessidades, enfatizando a confiança em sua provisão.
5. Pontos de Ensino
Confiar na Provisão de Deus
Jesus nos chama a confiar na capacidade de Deus de prover nossas necessidades, lembrando-nos de que a preocupação é desnecessária quando temos um Pai Celestial que conhece nossas necessidades.
Foco no Reino
Em vez de sermos consumidos por preocupações materiais, os crentes são encorajados a buscar primeiro o Reino de Deus, confiando que todas as coisas necessárias lhes serão acrescentadas.
Liberdade da Ansiedade
Ao colocar nossa confiança em Deus, podemos experimentar liberdade da ansiedade que frequentemente acompanha as preocupações sobre necessidades diárias.
Contentamento em Cristo
Aprender a estar contente com o que temos, sabendo que Deus provê de acordo com suas riquezas e sabedoria.
Oração e Ação de Graças
Em tempos de necessidade, voltar-se para a oração e ação de graças pode mudar nosso foco da preocupação para a gratidão, reforçando nossa confiança na provisão de Deus.
6. Aspectos Filosóficos
Este versículo apresenta uma tensão filosófica fundamental entre o materialismo prático e a confiança espiritual. Jesus questiona a pressuposição filosófica de que a segurança humana depende primariamente da acumulação e garantia de recursos materiais. Ele propõe uma visão alternativa onde a realidade última não é a escassez material, mas a abundância divina. Esta perspectiva desafia o utilitarismo que domina grande parte do pensamento humano, onde decisões são baseadas na maximização de resultados materiais mensuráveis.
A preocupação ansiosa revela uma filosofia de vida baseada no controle e na autoconfiança, enquanto Jesus propõe uma existência fundamentada na confiança e na dependência consciente de Deus. Filosoficamente, isto representa uma mudança de uma ontologia centrada no ser humano para uma ontologia centrada em Deus, onde o significado e a segurança derivam do relacionamento com o Criador, não da posse de recursos criados.
Jesus também aborda a questão do tempo ao dizer "não se preocupem". A preocupação é essencialmente uma tentativa de controlar o futuro através do pensamento ansioso no presente. Isto reflete uma compreensão distorcida da temporalidade humana, onde o futuro incerto domina e paralisa o presente. A proposta de Jesus é viver plenamente no presente com confiança no Deus que transcende o tempo, reconhecendo que a ansiedade não adiciona um único dia à vida nem resolve problemas futuros.
7. Aplicações Práticas
Desenvolver uma vida de oração diária que substitua a ansiedade
Quando surgirem preocupações sobre finanças, saúde ou futuro, transformar imediatamente esses pensamentos em orações específicas, entregando cada preocupação a Deus e agradecendo pela sua provisão passada.
Praticar o contentamento através da gratidão
Criar o hábito diário de listar três coisas pelas quais somos gratos, especialmente nas áreas de provisão material. Isto treina a mente a reconhecer a fidelidade constante de Deus em vez de focar no que falta.
Distinguir entre planejamento sábio e preocupação ansiosa
Planejar responsavelmente para o futuro (orçamento, poupança, preparação) sem permitir que a ansiedade domine. O planejamento confia em Deus enquanto age com sabedoria; a preocupação desconfia de Deus enquanto paralisa com medo.
Simplificar o estilo de vida para reduzir pressões materiais
Avaliar honestamente quais "necessidades" são na verdade desejos culturalmente condicionados. Reduzir despesas desnecessárias pode diminuir a ansiedade financeira e criar mais liberdade para servir a Deus.
Buscar primeiro o Reino em decisões práticas
Ao enfrentar decisões sobre carreira, mudanças ou investimentos financeiros, perguntar primeiro: "Como esta escolha me ajudará a buscar o Reino de Deus?" em vez de apenas "Como isto me beneficiará materialmente?"
Desenvolver comunidade que compartilha recursos
Participar ativamente de comunidades cristãs onde as pessoas se ajudam mutuamente, compartilhando recursos em tempos de necessidade, demonstrando confiança prática na provisão de Deus através do corpo de Cristo.
8. Perguntas e Respostas Reflexivas sobre o Versículo
1. Como compreender Deus como nosso Pai Celestial influencia nossa perspectiva sobre necessidades materiais?
Quando reconhecemos Deus como Pai Celestial, mudamos nossa perspectiva de mera sobrevivência para relacionamento filial. Um pai amoroso e capaz não apenas conhece as necessidades de seus filhos, mas se compromete ativamente a supri-las. Esta compreensão nos liberta da necessidade de controlar ansiosamente cada aspecto da vida material, pois confiamos no caráter e na capacidade do Pai. Diferente de pais humanos imperfeitos, Deus possui recursos ilimitados e conhecimento perfeito. Ele não apenas pode prover, mas sabe exatamente o que precisamos antes mesmo de pedirmos. Esta perspectiva transforma a ansiedade material em oportunidade de intimidade com Deus, onde apresentamos nossas necessidades não como demandas desesperadas, mas como conversas confiantes entre filho e Pai.
2. De que maneiras buscar primeiro o Reino de Deus pode mudar nossa abordagem às preocupações diárias?
Buscar primeiro o Reino reorganiza completamente nossa hierarquia de prioridades e valores. Quando o Reino ocupa o primeiro lugar, as preocupações materiais assumem seu lugar apropriado como secundárias, não irrelevantes, mas subordinadas. Esta busca significa perguntar em cada situação: "Como posso honrar a Deus e avançar seu Reino aqui?" em vez de "Como posso maximizar meu conforto e segurança?" Na prática, isto pode significar escolher um trabalho que permite maior serviço a Deus mesmo se paga menos, investir recursos em causas do Reino em vez de acumular segurança excessiva, ou usar talentos para edificar a igreja em vez de apenas progredir profissionalmente. Esta reorientação não nega a importância das necessidades práticas, mas as coloca sob a autoridade maior do propósito eterno de Deus.
3. Como Filipenses 4:6-7 e 1 Pedro 5:7 podem nos ajudar a aplicar praticamente o ensinamento de Jesus em Mateus 6:31?
Filipenses 4:6-7 fornece o método prático: em vez de ansiedade, apresentar pedidos a Deus com ação de graças. Isto significa que quando surgir preocupação sobre comida, bebida ou vestuário, a resposta correta não é reprimir o sentimento, mas transformá-lo em oração específica agradecida. A promessa é que a paz de Deus guardará nosso coração e mente. Esta paz não depende de circunstâncias mudarem, mas de sabermos que apresentamos o assunto ao Deus capaz. Pedro complementa isto em 1 Pedro 5:7 instruindo-nos a lançar toda ansiedade sobre Deus porque Ele cuida de nós. "Lançar" implica ação deliberada e completa - não apenas mencionar preocupações, mas verdadeiramente transferir o peso para Deus. A motivação é o cuidado divino: Deus não é indiferente, mas ativamente preocupado com nosso bem-estar.
4. Quais são alguns passos práticos que podemos tomar para cultivar contentamento e confiança na provisão de Deus em nossas vidas?
Primeiro, desenvolver disciplina de gratidão através de registro diário de provisões divinas, treinando os olhos para ver a fidelidade de Deus. Segundo, memorizar e meditar em promessas bíblicas sobre provisão, permitindo que a verdade de Deus molde nosso pensamento. Terceiro, praticar generosidade mesmo em tempos de limitação, demonstrando confiança de que Deus continuará provendo. Quarto, simplificar conscientemente nosso estilo de vida, distinguindo necessidades reais de desejos culturalmente induzidos. Quinto, desenvolver comunidade com crentes que compartilham valores de confiança em Deus, pois o contentamento é mais facilmente mantido em contexto de apoio mútuo. Sexto, examinar regularmente nosso coração para identificar áreas onde confiamos em recursos materiais em vez de em Deus, arrependendo-nos e reorientando-nos quando necessário.
5. Como podemos encorajar outros em nossa comunidade a confiar na provisão de Deus em vez de sucumbir à preocupação?
Primeiramente, através do testemunho pessoal de como Deus tem provido fielmente em nossa própria vida, especialmente em situações difíceis. Histórias concretas de provisão divina fortalecem a fé de outros. Segundo, oferecendo ajuda prática quando membros da comunidade enfrentam necessidades, tornando-nos instrumentos da provisão de Deus. Terceiro, orando especificamente com e por aqueles que lutam com ansiedade material, não apenas oferecendo palavras vazias, mas intercedendo genuinamente. Quarto, ensinando a Palavra de Deus sobre provisão e confiança de maneira acessível e aplicável. Quinto, modelando contentamento e generosidade, demonstrando que é possível viver livre da ansiedade material. Sexto, criando estruturas de apoio mútuo na igreja onde recursos são compartilhados em tempos de necessidade, mostrando que confiar em Deus não significa isolamento individualista, mas dependência em sua provisão através da comunidade.
9. Conexão com Outros Textos
Filipenses 4:6-7
"Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus."
Esta passagem encoraja os crentes a não serem ansiosos, mas apresentarem seus pedidos a Deus, prometendo paz que transcende o entendimento. Paulo fornece o antídoto prático para a ansiedade mencionada por Jesus: transformar preocupações em orações específicas acompanhadas de gratidão.
1 Pedro 5:7
"Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês."
Este versículo instrui os crentes a lançarem todas as suas ansiedades sobre Deus porque Ele cuida deles, reforçando o tema do cuidado divino. Pedro usa linguagem vigorosa - "lançar" - indicando transferência completa e deliberada do peso da preocupação para Deus.
Lucas 12:22-31
"Por isso eu digo: não se preocupem com sua própria vida, quanto ao que comer; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir. Pois a vida é mais importante do que a comida, e o corpo, mais do que as roupas. Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as aves!"
Uma passagem paralela onde Jesus similarmente instrui seus seguidores a não se preocupar com necessidades materiais, enfatizando a provisão de Deus. Lucas registra este ensinamento em contexto diferente, mostrando que era tema central na pregação de Jesus.
Salmo 37:25
"Fui jovem e agora sou velho, mas nunca vi o justo desamparado, nem seus filhos mendigando o pão."
O testemunho de Davi de nunca ter visto o justo abandonado, destacando a fidelidade de Deus em prover para seu povo. Esta observação de uma vida inteira confirma a confiabilidade do caráter providente de Deus.
Provérbios 3:5-6
"Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas."
Encoraja confiar no Senhor de todo coração, reconhecendo-o em todos os caminhos, o que se alinha com o chamado de confiar na provisão de Deus. Salomão contrasta confiança em Deus com dependência na própria compreensão limitada das circunstâncias.
10. Original Grego e Análise
Texto em Português:
"Portanto, não se preocupem, dizendo: 'Que vamos comer?' ou 'que vamos beber?' ou 'que vamos vestir?'"
Texto em Grego:
μὴ οὖν μεριμνήσητε λέγοντες Τί φάγωμεν; ἤ Τί πίωμεν; ἤ Τί περιβαλώμεθα;
Transliteração:
mē oun merimnēsēte legontes Ti phagōmen? ē Ti piōmen? ē Ti peribalōmetha?
Análise Palavra por Palavra:
μὴ (mē) - "não" Partícula de negação usada especialmente com o modo subjuntivo, expressando proibição ou comando negativo. Aqui indica uma ordem direta para cessar ou não começar uma ação.
οὖν (oun) - "portanto" Conjunção conclusiva que conecta este versículo ao argumento anterior sobre o cuidado de Deus com a criação. Indica que o comando seguinte é consequência lógica do que foi previamente estabelecido.
μεριμνήσητε (merimnēsēte) - "se preocupem" Verbo no subjuntivo aoristo, segunda pessoa plural, de "merimnao". A palavra grega significa "estar ansioso, preocupar-se, ter a mente dividida". O tempo aoristo com a negação sugere um comando para nunca começar a se preocupar ou para cessar completamente a preocupação. Este termo descreve não apenas pensar no futuro, mas uma ansiedade que divide e distrai a mente.
λέγοντες (legontes) - "dizendo" Particípio presente ativo, indicando ação contínua ou repetitiva. Jesus descreve o padrão habitual de verbalizar preocupações materiais, mostrando como a ansiedade se manifesta em questionamento constante.
Τί (Ti) - "que" Pronome interrogativo neutro repetido três vezes, introduzindo as perguntas ansiosas. A repetição enfatiza a natureza persistente e multifacetada da preocupação humana.
φάγωμεν (phagōmen) - "vamos comer" Verbo no subjuntivo aoristo, primeira pessoa plural, de "esthio" (comer). O modo subjuntivo expressa incerteza sobre o futuro, capturando a essência da ansiedade - dúvida sobre provisão futura.
ἤ (ē) - "ou" Conjunção disjuntiva repetida, conectando alternativas de preocupação. A estrutura paralela intensifica o peso cumulativo das ansiedades materiais.
πίωμεν (piōmen) - "vamos beber" Verbo no subjuntivo aoristo, primeira pessoa plural, de "pino" (beber). Junto com comida, representa as necessidades básicas de sobrevivência física.
περιβαλώμεθα (peribalōmetha) - "vamos vestir" Verbo no subjuntivo aoristo, primeira pessoa plural, voz média de "periballō", que significa "lançar ao redor, vestir-se". A voz média enfatiza o ato de vestir-se a si mesmo. Roupa representa não apenas necessidade física, mas também dignidade social e proteção.
A estrutura gramatical deste versículo é significativa. Jesus usa o subjuntivo aoristo com negação, que em grego expressa uma proibição categórica - não apenas "tente não se preocupar", mas "absolutamente não se preocupe". A repetição tripla da pergunta "Τί" (que) com três verbos no subjuntivo cria um padrão rítmico que reflete o ciclo vicioso da ansiedade humana. O uso de "λέγοντες" (dizendo) mostra que Jesus aborda não apenas pensamentos internos, mas a verbalização constante de preocupações que reforça e intensifica a ansiedade.
11. Conclusão
Mateus 6:31 apresenta um dos comandos mais desafiadores e libertadores de Jesus: não se preocupar com necessidades materiais básicas. Este versículo não é um convite ao irresponsabilidade ou passividade, mas um chamado radical à confiança no caráter e nas promessas de Deus. Jesus fundamenta este comando na demonstração anterior do cuidado divino pela criação - se Deus cuida dos pássaros e veste as flores, certamente cuidará dos seres humanos criados à sua imagem.
A análise do contexto histórico revela que Jesus falava a pessoas vivendo em vulnerabilidade econômica real, onde comida, água e roupa não eram garantidos. Seu ensinamento não minimiza estas necessidades legítimas, mas reorienta a perspectiva de seus seguidores da ansiedade paralisante para a confiança ativa. A estrutura gramatical do grego, usando proibição categórica com subjuntivo aoristo, mostra que Jesus ordena a cessação completa da preocupação ansiosa, não meramente sua redução.
Teologicamente, este versículo conecta-se com toda a narrativa bíblica de provisão divina - do maná no deserto à água da rocha, de Elias alimentado por corvos ao próprio Jesus como pão da vida. O comando para não se preocupar está enraizado na natureza de Deus como Pai providente que conhece e supre as necessidades de seus filhos. Filosoficamente, Jesus desafia a cosmovisão materialista que fundamenta segurança na acumulação de recursos, propondo em vez disso uma existência baseada em relacionamento com o Criador.
As aplicações práticas são vastas e necessárias: desenvolver vida de oração que substitua ansiedade, praticar contentamento através de gratidão, distinguir planejamento sábio de preocupação ansiosa, simplificar estilo de vida e buscar primeiro o Reino em todas as decisões. A conexão com outros textos bíblicos, especialmente Filipenses 4:6-7 e 1 Pedro 5:7, fornece métodos práticos para viver esta confiança: apresentar pedidos a Deus com gratidão e lançar sobre Ele toda ansiedade.
Para crentes contemporâneos em sociedades consumistas que constantemente geram novas "necessidades" e ansiedades, este versículo oferece liberdade radical. Jesus não promete que nunca enfrentaremos escassez ou dificuldade, mas garante que o Pai celestial conhece nossas necessidades e é fiel em prover. A questão central não é se teremos sempre abundância material, mas se confiaremos em Deus suficientemente para não permitir que a ansiedade domine nossa vida. Esta confiança liberta recursos emocionais, espirituais e práticos para buscar o Reino de Deus e sua justiça, sabendo que todas as coisas necessárias nos serão acrescentadas.









