Vocês, orem assim: ‘Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome.
1. Introdução
Jesus Cristo, no momento mais importante de Seu ministério terreno, oferece aos discípulos algo que revolucionaria a forma como a humanidade se relaciona com Deus: um modelo de oração. Este versículo abre a chamada "Oração do Pai Nosso", que não é apenas uma fórmula para repetição mecânica, mas um projeto de como nos aproximarmos do Criador.
A importância teológica deste versículo é imensa. Pela primeira vez na história, estabelece-se uma relação entre Deus e o ser humano que combina duas realidades aparentemente contraditórias: intimidade absoluta ("Pai nosso") e reverência suprema ("que estás nos céus", "santificado seja o teu nome"). Jesus ensina que podemos nos aproximar de Deus com a confiança de uma criança que corre para os braços do pai, mas nunca perdendo de vista que este Pai é o Criador soberano do universo.
Este modelo de oração também revela a natureza comunitária da fé cristã. Jesus não ensina "Pai meu", mas "Pai nosso". A oração cristã autêntica nunca é individualista. Mesmo quando oramos sozinhos em nosso quarto, fazemos parte de uma família espiritual global que se dirige ao mesmo Pai.
O contexto é o Sermão do Monte, onde Jesus está apresentando os princípios fundamentais do Reino de Deus. Após ensinar sobre justiça, misericórdia e sinceridade, Ele aborda a oração - não como ritual religioso, mas como relacionamento verdadeiro com o Pai celestial.
2. Contexto Histórico e Cultural
Para compreender a profundidade deste versículo, precisamos mergulhar na cultura judaica do primeiro século. A oração era o centro da vida religiosa judaica. Um judeu devoto orava três vezes ao dia: pela manhã, à tarde e à noite. As sinagogas eram locais de oração constante, e Jerusalém, com seu Templo, era vista como o lugar onde o céu e a terra se encontravam.
No entanto, havia um problema crescente: a oração estava se tornando performance. Os fariseus oravam nas esquinas das ruas para serem vistos pelos homens. As orações se tornavam longas e rebuscadas, cheias de repetições vazias que visavam impressionar os ouvintes, não buscar a Deus. A sinceridade estava sendo substituída pela ostentação religiosa.
O cenário geográfico é crucial. Jesus está provavelmente em uma encosta próxima ao Mar da Galileia, cercado por uma multidão de pessoas simples: pescadores, agricultores, artesãos e camponeses. A maioria nunca tinha frequentado escolas rabínicas e não conhecia as complexas tradições dos escribas. Jesus fala diretamente a essas pessoas, oferecendo um caminho de oração acessível, mas profundo.
Politicamente, Israel vivia sob ocupação romana. O povo judeu ansiava pela libertação e pelo estabelecimento do Reino de Deus na terra. Muitos esperavam um Messias guerreiro que expulsaria os romanos. Neste contexto, Jesus ensina que o Reino começa não com espadas, mas com oração. O poder transformador não vem de rebelião armada, mas de corações alinhados com a vontade do Pai celestial.
Culturalmente, chamar Deus de "Pai" não era completamente novo no judaísmo. O Antigo Testamento ocasionalmente refere-se a Deus como Pai de Israel como nação. Porém, Jesus está introduzindo algo radicalmente novo: uma relação pessoal e íntima de cada crente individual com Deus como Pai. Isto era quase inédito e soava revolucionário.
3. Análise Teológica do Versículo
Então, vocês orem assim:
Esta introdução à Oração do Pai Nosso é uma instrução direta de Jesus, destacando a importância da oração na vida do crente. Ela reflete a tradição judaica de oração, que era central na vida diária. Jesus oferece um modelo de oração, não apenas uma fórmula, indicando que a postura do coração é crucial. Este ensinamento ocorre durante o Sermão do Monte, um momento decisivo onde Jesus apresenta os princípios do Reino dos Céus.
"Pai nosso, que estás nos céus"
O termo "Pai nosso" indica um relacionamento pessoal e comunitário com Deus, destacando tanto intimidade quanto reverência. Na cultura judaica, Deus era frequentemente chamado de Pai, mas Jesus enfatiza uma conexão mais pessoal. A frase "que estás nos céus" reconhece a soberania e transcendência de Deus, distinguindo-O dos pais terrenos. Esta dualidade de intimidade e majestade é fundamental para entender a natureza de Deus.
"Santificado seja o teu nome"
"Santificar" significa honrar como sagrado. Esta frase é uma declaração da santidade de Deus e um pedido para que Seu nome seja reverenciado. Nos tempos bíblicos, um nome representava o caráter e a autoridade de alguém. Portanto, esta petição é para que o caráter de Deus seja reconhecido e honrado em toda a terra. Ela ecoa o Terceiro Mandamento, que instrui a não tomar o nome do Senhor em vão, e se alinha com a visão profética em Ezequiel 36:23, onde Deus promete santificar Seu grande nome entre as nações.
4. Pessoas, Lugares e Eventos
Jesus Cristo
O autor desta instrução sobre oração, ensinando Seus discípulos durante o Sermão do Monte. Jesus é o mediador perfeito entre Deus e os homens, capaz de ensinar sobre oração porque vive em comunhão perfeita com o Pai.
Discípulos
A audiência imediata do ensinamento de Jesus, representando todos os crentes que buscam seguir os ensinamentos de Cristo. Eles são testemunhas diretas desta revelação sobre como se comunicar com Deus.
Céu
O lugar onde Deus habita, significando Sua soberania e santidade. Não é apenas uma localização física, mas representa a dimensão espiritual onde a vontade de Deus é perfeita e completamente realizada.
Deus, o Pai
O destinatário da oração, enfatizando um aspecto pessoal e relacional de Deus como Pai de Seus filhos. Ele é ao mesmo tempo transcendente (nos céus) e imanente (nosso Pai).
Sermão do Monte
O contexto maior deste ensinamento, onde Jesus fornece princípios fundamentais para a vida cristã. É o manifesto do Reino de Deus, estabelecendo como os cidadãos deste Reino devem viver e se relacionar com Deus.
5. Pontos de Ensino
Compreendendo Deus como Pai
Reconheça o relacionamento íntimo que os crentes têm com Deus, aproximando-se dEle com a confiança e a segurança de uma criança diante de um pai amoroso. Esta verdade transforma toda nossa experiência de oração, removendo o medo e trazendo liberdade.
Reverência pelo Nome de Deus
Cultive um respeito profundo e honra pelo nome de Deus em todos os aspectos da vida, refletindo Sua santidade em nossas palavras e ações. O nome de Deus não deve ser usado levianamente, mas sempre com o peso da reverência que Ele merece.
Perspectiva Celestial
Reconheça a soberania de Deus e Sua perspectiva eterna, alinhando nossas orações e desejos com Sua vontade divina e propósito. Isto nos liberta da visão limitada e terrena, elevando nossos pensamentos às realidades eternas.
Modelo de Oração
Use a Oração do Pai Nosso como uma estrutura para a oração pessoal, focando no caráter de Deus, no Reino e na vontade dEle antes de apresentar pedidos pessoais. Este modelo garante que nossa oração seja equilibrada e centrada em Deus.
Comunidade na Oração
Note o uso de "nosso" na oração, enfatizando o aspecto comunitário da fé e a importância de orar com e pelos outros no corpo de Cristo. A oração cristã nunca é um ato solitário, mas sempre conecta o indivíduo à família espiritual global.
6. Aspectos Filosóficos
Este versículo apresenta uma das tensões filosóficas mais profundas da fé cristã: a simultaneidade da transcendência e imanência divina. Filosoficamente, quando dizemos "Pai nosso", afirmamos a imanência de Deus - Sua proximidade, Seu envolvimento pessoal em nossas vidas. Quando acrescentamos "que estás nos céus", declaramos Sua transcendência - Sua separação ontológica da criação, Sua majestade incompreensível.
Esta tensão não é uma contradição, mas um paradoxo necessário para a fé autêntica. Se Deus fosse apenas imanente, Ele seria reduzido a uma extensão de nossa própria experiência, perdendo Sua natureza divina. Se fosse apenas transcendente, não poderíamos nos relacionar com Ele de forma significativa. Jesus ensina que Deus é ambos: completamente próximo e completamente outro.
A questão da linguagem e do nome também carrega peso filosófico. Na filosofia antiga e na tradição bíblica, um nome não é apenas um rótulo arbitrário, mas representa a essência e o caráter de quem o carrega. Quando pedimos que o nome de Deus seja santificado, estamos reconhecendo que existe uma realidade objetiva sobre quem Deus é - uma verdade que deve ser reconhecida e honrada universalmente.
Este versículo também aborda a natureza da oração como ato filosófico. A oração não é magia nem manipulação do divino. É o alinhamento da vontade humana com a vontade divina. Jesus não está ensinando uma técnica para conseguir coisas de Deus, mas um caminho para entrar em comunhão com Ele. A oração verdadeira não muda Deus; transforma o coração do orante.
A dimensão comunitária ("nosso" em vez de "meu") revela uma filosofia relacional da existência humana. Não somos indivíduos isolados, mas pessoas em comunidade. Nossa identidade não é meramente individual, mas está ligada à família maior dos filhos de Deus. Esta perspectiva desafia o individualismo moderno e afirma que nossa relação com Deus é inseparável de nossa relação com outros crentes.
7. Aplicações Práticas
Na vida devocional pessoal
Comece seu tempo de oração reconhecendo conscientemente Deus como seu Pai. Antes de fazer qualquer pedido, passe tempo meditando no fato de que você tem acesso direto ao Criador do universo como filho amado. Esta consciência transformará a qualidade de suas orações, mudando-as de listas de pedidos para conversas íntimas com o Pai.
Nas situações de ansiedade e medo
Quando enfrentar momentos de preocupação intensa, lembre-se de que seu Pai está nos céus - Ele tem o controle soberano sobre todas as circunstâncias. A mesma mão que sustenta o universo sustenta sua vida. Esta verdade não nega as dificuldades reais, mas as coloca na perspectiva correta da soberania divina.
No uso da linguagem diária
Avalie como você usa o nome de Deus em conversas casuais. Expressões como "Meu Deus!" ou "Jesus!" usadas como interjeições sem significado real profanam o nome que deve ser santificado. Cultive o hábito de usar o nome de Deus apenas com propósito e reverência, e isso transformará gradualmente sua consciência de Sua presença.
Nas decisões importantes
Antes de tomar decisões significativas, ore usando esta estrutura: reconheça Deus como Pai que se importa com você, depois busque entender o que santificaria Seu nome naquela situação específica. Pergunte-se: "Esta decisão honra o caráter de Deus? Reflete quem Ele é?"
Na vida em comunidade
Quando orar em grupos - na igreja, em pequenos grupos ou na família - use intencionalmente "nosso Pai" em vez de "meu Pai". Isto reforça a identidade compartilhada como filhos de Deus e cultiva um senso de família espiritual. Ore pelos irmãos como quem compartilha o mesmo Pai.
Na adoração pública
Durante cultos e momentos de adoração coletiva, concentre-se conscientemente em santificar o nome de Deus - não apenas com palavras, mas com uma atitude interior de reverência genuína. Evite a adoração performática que busca impressionar outros, e busque a adoração sincera que honra o nome de Deus.
No enfrentamento de injustiças
Quando testemunhar o nome de Deus sendo desonrado na sociedade, responda não com amargura, mas com o compromisso de viver de forma que Seu nome seja honrado através de sua conduta. Seja sal e luz, mostrando o caráter do Pai através de ações concretas de amor e justiça.
8. Perguntas e Respostas Reflexivas sobre o Versículo
Como o fato de chamar Deus de "Pai nosso" influencia seu entendimento do relacionamento com Ele?
Chamar Deus de "Pai nosso" revoluciona completamente como nos aproximamos dEle. Primeiro, remove o medo paralisante que muitos sentem em relação a Deus, substituindo-o por confiança filial. Um filho pode se aproximar do pai com suas necessidades, dúvidas e até falhas, sabendo que será recebido com amor. Segundo, estabelece que não somos servos distantes, mas filhos com direito de herança. Isto significa que temos acesso íntimo à presença de Deus - não por mérito, mas por adoção. Terceiro, o termo "nosso" indica que compartilhamos este Pai com uma família espiritual global, criando laços de fraternidade com todos os crentes. Esta paternidade divina também estabelece nossa identidade fundamental: somos definidos não por nossas falhas ou sucessos, mas por sermos filhos amados do Pai celestial.
De que maneiras você pode garantir que o nome de Deus seja "santificado" em sua vida diária e interações com outros?
Santificar o nome de Deus começa com reconhecer que somos representantes dEle na terra. Cada ação, palavra e atitude comunica algo sobre quem Deus é. Praticamente, isto significa viver com integridade - suas ações privadas devem corresponder às suas declarações públicas de fé. Quando você perdoa genuinamente alguém que o feriu, santifica o nome de Deus como Pai perdoador. Quando age com compaixão pelos marginalizados, santifica o nome de Deus como defensor dos fracos. Evitar fofocas, mentiras e desonestidade santifica o nome de Deus como a verdade. Nas interações no trabalho, na família e na comunidade, pergunte-se: "Minha conduta está honrando o nome de Deus ou o está desonrando?" Também santificamos Seu nome através da adoração autêntica e da oração que não é performance, mas comunhão real.
Como reconhecer a soberania de Deus "nos céus" impacta sua abordagem à oração e tomada de decisões?
Reconhecer que Deus está "nos céus" transforma radicalmente nossa perspectiva sobre oração e decisões. Primeiro, elimina a tentação de tratar a oração como mecanismo para manipular Deus conforme nossos desejos. Em vez disso, buscamos alinhar nossa vontade com a dEle, confiando que Sua perspectiva eterna supera nossa visão limitada. Segundo, traz paz nas circunstâncias difíceis - quando as coisas parecem fora de controle aqui na terra, lembramos que nosso Pai governa soberanamente dos céus. Terceiro, nas decisões importantes, esta verdade nos liberta da paralisia do medo. Podemos decidir com confiança, sabendo que mesmo quando erramos, Deus está no controle e pode redirecionar nossos passos. Finalmente, esta soberania celestial nos protege contra o desespero - nenhuma situação terrena está além do alcance ou poder do Pai celestial.
Quais elementos da Oração do Pai Nosso você pode incorporar em sua vida de oração pessoal para aprofundar sua conexão com Deus?
A estrutura da Oração do Pai Nosso oferece um modelo completo para oração equilibrada. Primeiro, comece sempre reconhecendo quem Deus é - Pai amoroso e Soberano celestial - antes de fazer pedidos. Isto centra a oração em Deus, não em você. Segundo, inclua sempre um momento de adoração, santificando o nome de Deus através de reconhecimento de Seu caráter. Terceiro, ore pela expansão do Reino de Deus antes de seus interesses pessoais - isto alinha suas prioridades com as de Deus. Quarto, busque conhecer e fazer a vontade de Deus, não apenas obter o que você quer. Quinto, traga suas necessidades diárias confiando na provisão do Pai. Sexto, reconheça sua necessidade de perdão e sua responsabilidade de perdoar. Finalmente, peça proteção contra tentação. Este modelo garante oração abrangente que toca todas as áreas da vida.
Como você pode cultivar um senso de comunidade na oração dentro de sua igreja ou pequeno grupo, refletindo a natureza coletiva de "nosso" na oração?
Cultivar comunidade na oração exige intencionalidade. Primeiro, em grupos de oração, use consistentemente "nosso" e "nós" em vez de "meu" e "eu", mesmo ao orar por necessidades pessoais. Isto reforça a identidade coletiva como família de Deus. Segundo, crie espaços onde as pessoas possam compartilhar necessidades de oração sem julgamento, desenvolvendo vulnerabilidade mútua. Terceiro, estabeleça parcerias de oração onde duas ou três pessoas se comprometam a orar regularmente umas pelas outras. Quarto, celebre respostas de oração em comunidade, reconhecendo que Deus ouve as orações de Seu povo coletivamente. Quinto, ore não apenas pelas necessidades imediatas do grupo, mas pela igreja global, conectando-se à família maior de Deus. Sexto, ensine que mesmo quando oramos sozinhos, fazemos parte de um coro global de oração que se eleva ao Pai a cada momento.
9. Conexão com Outros Textos
Êxodo 20:7
"Não tomarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão."
Este mandamento conecta-se diretamente com a petição "santificado seja o teu nome". Deus ordena que Seu nome seja tratado com reverência absoluta. Tomar o nome de Deus em vão significa usá-lo sem significado real, levianamente ou para propósitos egoístas. Santificar o nome de Deus, como Jesus ensina, é viver de maneira oposta - usar o nome de Deus apenas com reverência e viver de forma que Seu caráter seja honrado em tudo que fazemos.
Romanos 8:15
"Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes outra vez aterrorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai!"
Paulo expande o conceito que Jesus introduz em Mateus 6:9. O termo "Aba" é ainda mais íntimo que "Pai" - é a forma carinhosa que uma criança pequena usaria, algo como "papai". Paulo revela que através do Espírito Santo, os crentes não apenas chamam Deus de Pai intelectualmente, mas experimentam um relacionamento profundo de adoção. Não somos escravos temendo um mestre distante, mas filhos amados chamando o Pai com intimidade e confiança.
Salmo 103:19
"O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre tudo."
Este salmo reforça a verdade de que Deus está "nos céus", destacando Sua soberania absoluta. O trono de Deus não está limitado a um território terreno específico, mas estabelecido nos céus, de onde Ele governa toda a criação. Esta verdade traz segurança ao crente: o Pai que chamamos em oração não é um pai limitado, mas o Rei soberano cujo domínio se estende sobre todas as circunstâncias de nossa vida.
Isaías 6:3
"E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória."
A santidade do nome de Deus é ecoada no clamor dos serafins. A repetição tripla "santo, santo, santo" enfatiza a absoluta santidade de Deus - Ele é completamente separado de tudo que é comum ou profano. Quando Jesus nos ensina a orar "santificado seja o teu nome", está nos convidando a nos unirmos ao coro celestial que reconhece e proclama a santidade de Deus. Nossa oração na terra deve refletir a adoração que acontece continuamente no céu.
João 17:1-5
"Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer; e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo."
Jesus modela exatamente o que Ele ensinou em Mateus 6:9. Ele se dirige a Deus como "Pai", busca a glorificação do nome do Pai acima de tudo, e reconhece a autoridade celestial de Deus. Esta oração demonstra que Jesus não apenas ensinou sobre oração, mas viveu em constante comunhão com o Pai. O objetivo supremo de Cristo era glorificar o Pai - santificar Seu nome através de obediência perfeita e amor sacrificial.
10. Original Grego e Análise
Versículo em Português:
"Vocês, orem assim: 'Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome."
Texto em Grego:
Οὕτως οὖν προσεύχεσθε ὑμεῖς· Πάτερ ἡμῶν ὁ ἐν τοῖς οὐρανοῖς· ἁγιασθήτω τὸ ὄνομά σου·
Transliteração:
Houtos oun proseuchesthe hymeis: Pater hēmōn ho en tois ouranois: hagiasthētō to onoma sou:
Análise Palavra por Palavra:
Οὕτως (Houtos) - "Assim/desta maneira"
Este advérbio estabelece que o que segue é um modelo específico. Jesus não está sugerindo uma possibilidade entre muitas, mas prescrevendo a forma correta de oração. A palavra indica método e padrão.
οὖν (oun) - "portanto/então"
Conecta esta instrução com o contexto anterior, onde Jesus criticou as orações hipócritas dos fariseus. Esta palavra indica conclusão lógica: "já que as orações vazias devem ser evitadas, portanto orem assim".
προσεύχεσθε (proseuchesthe) - "orem/orai"
Verbo no imperativo presente, indicando ação contínua. Jesus ordena não um ato único de oração, mas um estilo de vida de oração. A forma imperativa mostra que isto é comando, não sugestão.
ὑμεῖς (hymeis) - "vocês"
Pronome pessoal enfático. Jesus está endereçando diretamente Seus ouvintes, tornando o ensino pessoal e direto. O uso do plural indica que a instrução é para toda a comunidade de discípulos.
Πάτερ (Pater) - "Pai"
Termo que revoluciona o conceito de Deus. No grego, "pater" indica não apenas paternidade biológica, mas também autoridade, provisão e proteção. Jesus escolhe esta palavra para estabelecer relacionamento íntimo com Deus.
ἡμῶν (hēmōn) - "nosso"
Pronome possessivo plural. A escolha do plural em vez do singular é teologicamente significativa. Deus não é apenas "meu" Pai, mas "nosso" Pai - enfatizando a dimensão comunitária da fé cristã.
ὁ ἐν (ho en) - "o que está em/o em"
Construção que indica localização e estado de ser. Não significa que Deus está confinado aos céus, mas que Ele habita na dimensão celestial de onde governa.
τοῖς οὐρανοῖς (tois ouranois) - "nos céus"
Plural de "ouranos" (céu). O plural no grego pode indicar tanto os céus físicos quanto a dimensão espiritual onde Deus habita. Enfatiza a transcendência e majestade de Deus.
ἁγιασθήτω (hagiasthētō) - "seja santificado"
Verbo no imperativo aoristo passivo. O aoristo indica ação completa, e o passivo mostra que é Deus quem santifica Seu próprio nome - nós reconhecemos e declaramos esta santidade, não a criamos. Esta é uma forma de oração adoradora que reconhece a santidade inerente de Deus.
τὸ ὄνομά (to onoma) - "o nome"
No pensamento hebraico e grego, o nome não é apenas um rótulo, mas representa a totalidade do caráter, natureza e reputação de alguém. O nome de Deus é Deus revelado.
σου (sou) - "teu/seu"
Pronome possessivo de segunda pessoa singular. Personaliza a oração - estamos nos dirigindo diretamente a Deus, reconhecendo que este nome santo pertence ao Pai celestial.
Análise Sintática:
A estrutura grega coloca "Pai nosso" no vocativo, estabelecendo imediatamente o relacionamento antes de qualquer petição. A frase "o que está nos céus" qualifica "Pai", criando o equilíbrio entre intimidade e transcendência. O imperativo passivo "seja santificado" é gramaticalmente uma petição, mas funcionalmente é adoração - um reconhecimento da natureza santa de Deus que deve ser universalmente reconhecida.
11. Conclusão
Mateus 6:9 é muito mais que o início de uma oração tradicional - é uma revolução teológica condensada em poucas palavras. Jesus estabelece um novo paradigma de como a humanidade se relaciona com Deus, combinando a intimidade radical de um pai amoroso com a reverência absoluta devida ao Criador soberano.
O conceito de "Pai nosso" destrói as barreiras que separavam a humanidade de Deus. Não precisamos mais de sacerdotes como intermediários ou de rituais elaborados para nos aproximarmos dEle. Podemos entrar com ousadia na presença do Pai celestial, não por nossa própria justiça, mas porque fomos adotados como filhos através de Cristo.
Simultaneamente, "que estás nos céus" e "santificado seja o teu nome" nos impedem de cair na familiaridade irreverente. Deus é nosso Pai, mas não é um pai comum - Ele é o Pai celestial, cujo nome é santo, cuja natureza é absolutamente pura, cujo caráter é infinitamente superior. Esta tensão entre intimidade e reverência deve marcar toda nossa vida de oração e toda nossa jornada espiritual.
A dimensão comunitária ("nosso") revela que a fé cristã autêntica nunca é individualista. Mesmo em nossos momentos mais privados de oração, somos parte de uma família global que compartilha o mesmo Pai. Esta verdade deve moldar como vivemos, como oramos e como nos relacionamos com outros crentes.
A petição "santificado seja o teu nome" estabelece a prioridade correta: Deus primeiro, nós depois. Antes de trazermos nossas necessidades, reconhecemos quem Ele é. Antes de pedirmos bênçãos, buscamos que Seu nome seja honrado. Isto transforma a oração de um monólogo egocêntrico em diálogo centrado em Deus.
Praticamente, este versículo nos chama a viver de forma que o nome de Deus seja santificado através de nossas vidas. Cada decisão, cada palavra, cada ação deve ser filtrada através da pergunta: "Isto honra o caráter do meu Pai celestial?" Quando vivemos assim, nos tornamos cartas vivas que revelam quem Deus é para um mundo que desesperadamente precisa conhecê-Lo.
Este modelo de oração que Jesus ensina não é fórmula mágica, mas caminho de relacionamento transformador com o Pai celestial. É convite para uma vida de comunhão constante com Aquele que é ao mesmo tempo próximo o suficiente para nos chamar de filhos e majestoso o suficiente para governar o universo inteiro.









