Mateus 2:15

 
onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: "Do Egito chamei o meu filho".

1. Introdução

Mateus 2:15 narra um período crucial na infância de Jesus, onde Ele permaneceu no Egito até a morte de Herodes. Essa permanência não é apenas uma medida de proteção contra o perigo iminente, mas também um ato que se alinha ao plano soberano de Deus, conectando diretamente os eventos da vida de Jesus às profecias do Antigo Testamento.

A citação "Do Egito chamei o meu Filho", retirada de Oséias 11:1, estabelece um elo entre Jesus e a história de Israel, lembrando o momento em que Deus libertou os israelitas do Egito. Aqui, Jesus é visto como o cumprimento definitivo dessa promessa, simbolizando uma nova era de libertação espiritual. Este versículo destaca, mais uma vez, o cuidado de Deus para cumprir Seu plano de redenção, mesmo em meio a ameaças humanas.

A profundidade teológica deste versículo o torna um ponto de reflexão sobre a providência divina e a fidelidade de Deus às Suas promessas.

2. Contexto Histórico e Cultural

A Permanência no Egito
O Egito era frequentemente um local de refúgio no mundo antigo, especialmente por estar fora do alcance da jurisdição dos governantes da Judeia, como Herodes. Para a Sagrada Família, o Egito representava um santuário seguro durante um período de perseguição implacável. A significativa comunidade judaica estabelecida no Egito poderia ter proporcionado algum nível de apoio cultural ou social à família durante sua estada.

A Morte de Herodes
Herodes, conhecido como Herodes, o Grande, governou com mão de ferro e era infame por sua paranoia em relação a possíveis ameaças ao seu trono. Sua morte, em 4 a.C., marcou o fim do perigo imediato para a vida de Jesus e possibilitou o retorno da Sagrada Família à terra de Israel.

Oséias 11:1 e o Êxodo
A citação "Do Egito chamei o meu filho" faz referência a Oséias 11:1, originalmente descrevendo Israel como o "filho" de Deus libertado do Egito. Mateus reaplica essa profecia a Jesus, vendo-o como o cumprimento da história de Israel e da promessa divina de libertação e redenção. Essa ligação reforça o paralelo entre o Êxodo e a nova obra redentora que Jesus traria.

Profecia e a Interpretação Judaica
O uso de textos do Antigo Testamento para descrever eventos na vida de Jesus reflete uma prática comum entre os autores do Novo Testamento. Eles frequentemente reinterpretavam passagens proféticas à luz da vida, morte e ressurreição de Jesus, mostrando como Ele encarnava o cumprimento das promessas de Deus.

3. Interpretação Teológica do Versículo

"Onde ficou até a morte de Herodes"
José, Maria e Jesus permaneceram no Egito até a morte de Herodes, estimada em cerca de 4 a.C. Herodes, conhecido por sua tirania e paranoia, foi responsável pelo massacre dos inocentes em Belém. Essa permanência no Egito simboliza o cumprimento do plano protetor de Deus, utilizando o Egito como refúgio seguro, assim como foi para os israelitas em narrativas anteriores da Bíblia.

"E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta"
A frase destaca um tema recorrente no Evangelho de Mateus: o cumprimento de profecias, demonstrando que Jesus é o Messias prometido. A utilização de profecias sublinha a soberania de Deus e Sua capacidade de orquestrar eventos históricos para realizar Seu plano redentor. Conecta a história de Jesus ao plano maior da história de Israel.

"Do Egito chamei o meu filho"
Citação de Oséias 11:1, que originalmente se refere ao êxodo de Israel do Egito. Em Mateus, é aplicada de forma tipológica a Jesus, criando um paralelo entre Israel como "filho" de Deus e Jesus como o cumprimento máximo desse papel. Essa tipologia apresenta Jesus como o verdadeiro Israel, que realiza e completa a missão que Israel foi chamado a cumprir. O "chamado do Egito" simboliza libertação e o início de uma nova aliança com Jesus como a figura central do plano redentor de Deus.

4. Pessoas / Lugares / Eventos

1. Jesus
A figura central do Novo Testamento, cuja vida e missão estão sendo descritas nesta passagem. Ele é o cumprimento das promessas e profecias messiânicas.

2. Herodes
Rei da Judeia na época do nascimento de Jesus, conhecido por sua tirania e paranoia que levaram ao massacre dos inocentes em Belém.

3. Egito
O local onde José, Maria e Jesus buscaram refúgio, simbolizando tanto proteção divina quanto um lugar histórico de libertação e cativeiro.

4. Profeta Oséias
O profeta do Antigo Testamento cujas palavras são referenciadas nesta passagem, especificamente Oséias 11:1, conectando Jesus à história redentora de Israel.

5. José
O pai terreno de Jesus, que demonstrou obediência inabalável ao levar sua família ao Egito conforme as instruções do anjo, protegendo o menino Jesus.

5. Pontos de Ensino

Cumprimento de Profecias
Mateus 2:15 ressalta a importância das profecias em validar Jesus como o Messias. Entender o cumprimento das profecias do Antigo Testamento fortalece nossa fé na inspiração divina das Escrituras.

Soberania e Proteção de Deus
A fuga para o Egito demonstra o plano soberano de Deus e Sua proteção sobre Jesus. Os crentes podem confiar na orientação e proteção de Deus em suas próprias vidas, mesmo em momentos de perigo ou incerteza.

Tipologia entre Israel e Jesus
Assim como Israel foi chamado para fora do Egito, o retorno de Jesus simboliza um novo êxodo, apontando para Seu papel como o verdadeiro Israel e o cumprimento do plano redentor de Deus.

Obediência à Orientação de Deus
A obediência de José ao comando do anjo serve como modelo para os crentes. Somos chamados a ouvir e responder à direção de Deus, mesmo quando isso exige mudanças significativas ou sacrifícios.

Jesus como o Filho Verdadeiro
A referência a "Meu Filho" enfatiza a filiação divina de Jesus e Seu relacionamento único com o Pai. Isso nos convida a reconhecer e honrar a autoridade e a missão de Jesus.

6. Visões Teológicas

Ortodoxia Cristã
O versículo é interpretado como evidência do plano soberano de Deus. A fuga para o Egito e o cumprimento de profecias mostram Jesus como o Messias prometido e a centralidade de Sua missão no plano redentor.

Teologia Reformada
A perspectiva reformada destaca a providência e soberania de Deus em cada aspecto da vida de Jesus. José é visto como um modelo de obediência prática e fé, enquanto o cumprimento de profecias reafirma a confiabilidade das Escrituras.

Teologia Católica
Os católicos frequentemente enfatizam a filiação divina de Jesus e o papel de Maria e José na proteção do Salvador. Este versículo é um exemplo da colaboração humana com o plano de Deus e da importância da família na obra divina.

Teologia Pentecostal/Carismática
Pentecostais e carismáticos veem a fuga para o Egito como um exemplo de discernimento espiritual e da orientação divina em tempos de adversidade. A prontidão de José em obedecer é apresentada como modelo de sensibilidade ao Espírito Santo.

Teologia Liberal
Perspectivas liberais podem interpretar o versículo como uma metáfora para os desafios enfrentados por indivíduos e comunidades ao buscar segurança e realização de seus propósitos, refletindo a conexão entre os eventos históricos e os temas espirituais.

Visão Histórica-Crítica
Estudiosos podem explorar o uso de Oséias 11:1 como uma reinterpretação literária para conectar Jesus à história de Israel. Este versículo é visto como parte da narrativa teológica de Mateus para demonstrar que Jesus é o cumprimento das promessas divinas.

7. Aspectos Filosóficos

A Relação entre História e Providência Divina
Este versículo levanta questões filosóficas sobre como eventos históricos podem refletir a providência divina. A fuga para o Egito não é apenas um evento prático, mas também um símbolo do plano redentor de Deus que atravessa o tempo e espaço.

Refúgio e Redenção
O uso do Egito como refúgio, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, inspira reflexões sobre o papel dos lugares de acolhimento em tempos de crise. Filosoficamente, isso questiona nossa responsabilidade ética de oferecer refúgio a quem precisa.

O Paralelo entre Israel e Jesus
O paralelo entre Israel e Jesus como "filho chamado do Egito" convida à reflexão sobre identidades coletivas e individuais. O que significa ser chamado para cumprir um propósito? Este conceito filosófico pode inspirar discussões sobre a missão individual no contexto de um plano maior.

Obediência e Liberdade
A ação de José, ao seguir a orientação divina sem hesitação, traz à tona questões sobre a relação entre liberdade e obediência. O ato de submeter-se à vontade de Deus pode ser visto como um ato de fé e confiança, mas também como uma escolha consciente que requer coragem.

Cumprimento e Transformação
A frase "Do Egito chamei o meu filho" pode ser interpretada como o movimento da opressão para a liberdade, simbolizando transformação. Filosoficamente, isso pode ser aplicado à ideia de superar desafios e crescer em direção a um propósito maior.

8. Aplicações Práticas e Reflexões Contemporâneas

Confiança na Soberania de Deus
A fuga para o Egito nos lembra que Deus é soberano e cuida de Seus filhos mesmo em situações de perigo. Este versículo nos encoraja a buscar refúgio em Deus, confiando em Sua proteção e direção, especialmente em tempos de adversidade.

Obediência como Caminho de Fé
José exemplifica uma obediência prática e imediata às instruções divinas. Isso nos inspira a responder prontamente às orientações de Deus em nossas vidas, mesmo quando isso exige mudanças difíceis ou sacrifícios.

Reconhecimento das Promessas de Deus
O cumprimento de profecias neste versículo reafirma a fidelidade de Deus às Suas promessas. Podemos fortalecer nossa fé ao refletir sobre como Deus cumpre Suas promessas, tanto no passado como no presente.

Redenção e Transformação
A referência a "Do Egito chamei o meu Filho" simboliza a libertação e o início de um novo capítulo na história redentora. Isso nos convida a considerar como Deus pode transformar situações de dificuldade em momentos de crescimento e propósito.

Espiritualidade e Família
A jornada da Sagrada Família destaca a importância do apoio familiar em tempos de crise. Isso nos lembra do papel central da família em promover valores espirituais e trabalhar em conjunto para cumprir o propósito divino.

9. Conclusão

Mateus 2:15 encapsula a perfeita integração entre os eventos históricos e o plano divino. Este versículo reafirma a soberania de Deus ao proteger Jesus e ao assegurar que cada detalhe de Sua vida corresponda ao cumprimento das profecias bíblicas. Ele também destaca a centralidade de Jesus como o Filho divino, cuja jornada terrena exemplifica libertação e redenção.

A conexão tipológica entre Israel e Jesus enriquece a compreensão de seu papel como o verdadeiro Israel, aquele que realiza plenamente os propósitos redentores de Deus. José, ao agir obedientemente, reflete o modelo de fé ativa e prática que todos os crentes são chamados a seguir. Este versículo nos inspira a confiar em Deus, valorizar o cumprimento das promessas bíblicas e viver de maneira alinhada ao plano divino, mesmo em momentos de adversidade.

10. Original Grego e Análise

Versículo Completo

Português: "onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: 'Do Egito chamei o meu filho'."

Grego: καὶ ἦν ἐκεῖ ἕως τῆς τελευτῆς Ἡρῴδου· ἵνα πληρωθῇ τὸ ῥηθὲν ὑπὸ Κυρίου διὰ τοῦ προφήτου λέγοντος· Ἐξ Αἰγύπτου ἐκάλεσα τὸν υἱόν μου.

Pronúncia: Kai ên ekei heōs tēs teleutēs Hērōdou; hina plērōthē to rhēthen hypo Kyriou dia tou prophētou legontos· Ex Aigyptou ekalesa ton hyion mou.

Análise Palavra por Palavra

  1. καὶ ἦν ἐκεῖ (Kai ên ekei - "onde ficou") Uma frase simples que descreve a permanência da Sagrada Família no Egito. O verbo ἦν (ên) é uma forma imperfeita do verbo "ser", indicando uma ação contínua no passado.

  2. ἕως τῆς τελευτῆς Ἡρῴδου (Heōs tēs teleutēs Hērōdou - "até a morte de Herodes") A palavra τελευτῆς (teleutēs) significa "fim" ou "morte", referindo-se ao momento em que Herodes faleceu, marcando o término do perigo imediato.

  3. ἵνα πληρωθῇ (Hina plērōthē - "para que se cumprisse") Uma construção que aponta para o propósito divino, indicando que os eventos ocorreram para o cumprimento das Escrituras. O verbo πληρωθῇ (plērōthē) vem de πληρόω (plēroō), que significa "cumprir" ou "completar".

  4. τὸ ῥηθὲν ὑπὸ Κυρίου (To rhēthen hypo Kyriou - "o que o Senhor tinha dito") ῥηθὲν (rhēthen) é o particípio do verbo λέγω (dizer), reforçando que o cumprimento está ligado ao que foi dito por Deus através das profecias.

  5. διὰ τοῦ προφήτου (Dia tou prophētou - "pelo profeta") Esta frase identifica a fonte da profecia, destacando o papel dos profetas como mensageiros de Deus.

  6. Ἐξ Αἰγύπτου ἐκάλεσα τὸν υἱόν μου (Ex Aigyptou ekalesa ton hyion mou - "Do Egito chamei o meu filho") Citando diretamente Oséias 11:1, onde ἐκάλεσα (ekalesa) é o verbo no aoristo, que significa "eu chamei". A frase reafirma o papel de Jesus como o Filho de Deus, cumprindo o destino redentor.

A Bíblia Comentada